quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Meu Pedacinho do Céu


Já ouvi muitas histórias de avós de amigos meus, algumas avós normais, outras nem tão legais, mas todas em sua essência Avós.
Muitas vezes pensei em escrever as histórias de minha avó, mas sempre acabava escrevendo outras historias e as deixando de lado.
Hoje, já não sabendo mais como expressar minha dor, tentarei escrever algumas coisas para meu “Pedacinho de Céu”.

Desde que comecei a aprender a escrever perguntava a minha mãe - Por que a gente chama a vovó de Ceça se o nome dela é Josefa? - Minha mãe nunca soube me explicar, com o tempo acostumei e ela era minha vovó Ceça e para todos a Dona Ceça.
Minha avó era a senhora mais linda que já conheci, aquela avó que todo neto gostaria de ter, exatamente como as avós são retratadas nos contos infantis, baixinha, rechonchuda e com o cabelo branquinho, branquinho, igualzinho a uma nuvem. Morava em Lagarto, cidade do interior de Sergipe, onde todos se conhecem, as portas e as janelas das casas dão direto para a rua (isso me lembra aquela música “Ta me esperando na janela ai ai...”).
Fazia tudo o que era possível pelos seus netos, passando muitas vezes por cima das opiniões de seus filhos. Cozinhava como ninguém, sua melhor receita eram seus biscoitos açucarados, não tinha uma vez que íamos a sua casa que ela não fazia aqueles biscoitos para mim. Tudo o que ela fazia era bom, tudo tinha um gosto especial, era feito com muito amor e carinho, pois como ela mesma dizia, era o que podia fazer para mimar seus netos.
A lembrança mais doce que tenho dela, foi quando minha mãe estava prestes a dar a luz ao meu irmão, minha avó tinha vindo para São Paulo para ficar uns dias em nosso apartamento. Quando minha mãe foi para o hospital, fiquei com minha avó. Lembro exatamente de como era passar o dia com ela, ela ficava sentada em sua cadeira (tinha uma cadeira exatamente igual na casa de cada filho) com os pés repousados em um banquinho e lá ficava fazendo crochê, o dia todo, só se levantava para preparar algo para mim ou para pegar seu terço. Ficamos ali, ela em sua cadeira e eu ao seu lado, segurando suas linhas de crochê. Tínhamos nossas diferenças apenas na hora de escolher o canal de TV, ela sempre assistia à novela, qualquer uma e eu na época os desenhos, mas no final entravamos em um acordo.
Todas as vezes que íamos até sua casa, ela preparava os quartos, fazia diversos tipos de comida e sempre estava disposta a agradar. Minha vó não era do tipo que ficava dando beijinho ou abraçando, herança herdava da família Viana, que é um tanto discreta em relação a demonstrar sentimentos.
Adorava quando ela contava as histórias de minhas tias e meus tios quando eram jovens, principalmente de minha mãe. Ela era a sogra perfeita, nunca a vi se intrometer na vida de seus filhos a não ser para lhes dar conselhos quando lhe era pedido. Meu pai a amava, lembro que ela sempre dizia que só meu pai conseguiu amansar minha mãe rs e que apesar dos defeitos ele era muito bom pra ela e quando dizia isso fazia questão de me lembrar que todos os bons homens sempre tem grandes defeitos.
Dela herdei minha característica mais eminente, ela não era de falar muito, não me lembro de nenhum momento em que ela tinha conversas longas, característica passada a minha mãe e conseqüentemente a mim.
Mas o tempo foi ingrato com ela, primeiro foi a diabete que lhe tiro um de seus prazeres favoritos, os doces, depois passou a andar com a ajuda da bengala e ter falha na audição, o que sempre gerava cenas engraçadíssimas dela com a TV. Foram muitas as vezes em que acordei cedissímo (as 6 da manhã, horário da missa na TV) porque a o som da televisão estava muito alto, mas nunca reclamávamos, ao contrário dela que sempre achava que incomodava, como sempre foi muito independente, não se sentia confortável quanto tínhamos que ajudá-la a andar ou quando mexíamos em sua cozinha, território que com muito esforço de minha tias, ela teve que abrir mão, pois não tinha mais forças em seus braços para cozinhar.
Pena que minha convivência com ela foi diminuindo quando comecei a trabalhar, não tive mais férias, ou então quando as tinhas não tinha dinheiro para viajar. Este ano, minha motivação maior, era saber que iria para Aracaju no final do ano e iria reencontrá-la depois de alguns anos pois seria feita uma festa em comemoração aos seus 90 anos.
Mas Deus não me deu a chance de vê-la mais uma vez, ela veio a falecer em 03 de Setembro de 2009 depois de alguns dias internada. A noticia me foi dada pela minha mãe quando cheguei em casa e a encontrei deitada sozinha no sofá e no escuro. Descrever a dor que me causo e ainda me causa sua perda talvez seja impossível, minha dor só não se compara a dor de minha mãe que não pode estar ao lado de minha avó nos últimos momentos de sua vida.
Não tenho sequer uma recordação ruim de minha avó, se houve algum momento ruim este com certeza foi apagado pelas vastas lembranças boas.
Poderia me lamentar por muitas coisas, por não ter tido tanto contato com minha avó durante os anos que não fui visitá-la, ou por não ter feito por ela coisas que outros netos fizeram, mas eu sei que ela me amava e como amava, em sua casa havia uma estante apenas para as fotos de seus netos e seus bisnetos e é por isso que sei que ela nunca teve algum tipo de mágoa por não termos podido estar sempre ao lado dela. Sei que agora ela está ao lado do seu tão amado marido, meu avó Almeida, que partiu a 20 anos, exatamente no dia do meu aniversário, olhando por todos nós, assim como ela sempre fez, em toda sua vida.
Não pude me despedir dela, mas guardo em meu coração todas as suas lembranças e sei que ela sempre será lembrada por mim como a melhor avó que pude ter e por ser a mais doce lembrança de minha vida.

2 comentários:

  1. vovó... presságio de saudade, né?!
    linda homenagem, prima!!!

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  2. Paulinha, não sei o por quê de não ter lido antes este post, mas li agora e pude relembrar de todos os momentos que passei com a sua avó, minha tia Ceça e fui as lágrimas, pois ela era assim, não só com os netos, mas também com os sobrinhos... Saudades!

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